sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O Homem que Virou suco

João Batista de Andrade, Brasil, 1979.


Vinte e oito anos depois de seu lançamento, onde se encontra a importância de (re)ver “O homem que virou suco”? De incontestável importância na época de seu lançamento (o filme recebeu prêmio de melhor filme no Festival de Moscou, Melhor Roteiro e Melhor Ator em Gramado, entre outros), o filme não concentra sua força somente em prêmios e permanece relevante até os dias de hoje.
Desde o cinema novo na década de 60, as preocupações sociais estão intrínsecas à produção cinematográfica brasileira. Mesmo os filmes que se seguiram à esse movimento - como o cinema marginal da década de 70 -mantém a mesma preocupação, embora numa busca de novos padrões estéticos.
O filme de João Batista de Andrade segue as mesmas tendências de temas relacionadas ao povo brasileiro e faz uma relação com a literatura de cordel (o protagonista é um poeta popular), tradicional do próprio povo nordestino.
Filmado sob o declínio da ditadura militar, o filme traz a história de Deraldo (José Dumont), um emigrante nordestino que, assim como muitos outros, vai para São Paulo em busca de trabalho. Confundido com um funcionário de uma empresa que assassinou o patrão, Deraldo é obrigado a fugir e, em seu trajeto para encontrar o verdadeiro assassino e se livrar da culpa, ele passa por vários trabalhos sempre lutando para não “virar suco” em meio à opressão e humilhação que “esmaga” tantos Deraldos na hierarquia da sociedade industrial.
As fronteiras são estreitas: documentário e ficção se confundem, seja na improvisação de diálogos entre os atores (alguns deles eram realmente peões) ou a inserção do personagem de Dumont dentro do espaço da cidade interagindo com os transeuntes – marca do passado do diretor como documentarista.
O filme ainda conta com a presença de José Dumont em seu primeiro papel como protagonista revelando sua força como ator (que viria a ser confirmada em trabalhos posteriores como “Memórias do Cárcere” (1983, Nelson Pereira dos Santos) ou “Brincando nos Campos do Senhor” (1990, Hector Babenco) representando um personagem que, como ele, também veio da Paraíba sem documentos. Ficção e realidade que se misturam todo o tempo e nos deixam um filme que sempre terá sua importância na história do nosso cinema.

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