Luis Sergio Person, Brasil, 1965.
São Paulo Sociedade Anônima surge fácil em qualquer lista de melhores filmes brasileiros. Trata-se do primeiro filme de Luis Sergio Person a ser exibido nos cinemas, embora seu primeiro trabalho a ser filmado tenha sido “Marido Barra Limpa”.
O filme se passa entre os anos de 1957 a 1961, período de euforia desenvolvimentista: o governo de J.K. incentivando a instalação de indústrias estrangeiras no Brasil. E também o período entre os 25 e 30 anos da vida do protagonista Carlos, interpretado por Walmor Chagas. Logo no primeiro plano, sente-se a opressão de uma cidade como São Paulo sobre as pessoas: durante a briga entre Carlos e Luciana (Eva Wilma), os vidros da varanda impedem que se ouça as vozes, mas refletem os prédios em volta. Não há como fugir deles quando se está em São Paulo. Eles são o reflexo dos vidros e a paisagem das janelas.
Seguem-se os créditos que mesclam a música de Claudio Petraglia a imagens de São Paulo. O que vemos depois são flashbacks de Carlos que, após abandonar a esposa, caminha sem rumo pelas ruas de São Paulo. A narrativa é não-linear, a montagem de Glauco Mirko Laurelli faz com que tudo ocorra em fluxo de consciência, à maneira do Resnais de “O ano passado em Marienbad”. Carlos vai relembrando fatos do passado, lembranças de mulheres com as quais se envolveu, como Ana (Darlene Gloria) e Hilda (Ana Esmeralda).
A primeira, representação do amor carnal, é uma modelo interessada somente por homens ricos. Ana deseja lanchas, jantares e é criticada por isso. A segunda é cheia de desejos e ansiedades que no fundo só servem para esconder o vazio dentro dela, escondendo em festas suas frustrações e carências. Das mulheres com que se envolve, só Hilda não fala em dinheiro, embora também goste do conforto. Luciana deixa claro logo na noite em que é pedida em casamento que faz questão de viver em boas condições financeiras.
Na manhã de ano novo, depois de ter estado em festas lotadas de gente e ter se isolado em cantos (Carlos se mostra um solitário, não vemos presença de sua família ou amigos, só as mulheres com as quais se envolve) ele se dirige ébrio à casa de Luciana e, enquanto grita seu nome, fala em “recomeçar tudo em ordem”. A ordem que mais falta na rotina caótica do paulistano. As frases tem de ser repetidas várias vezes numa tentativa de torná-las reais.
Carlos não se mostra muito superior a nenhuma de suas mulheres. Sempre introspectivo, carrancudo, mau-humorado e resmungando, acaba se casando com Luciana “por cansaço”, “por preguiça de procurar algo melhor”. O casamento acaba sendo pra ele o equivalente ao emprego. Vai deixando que as coisas aconteçam como elas parecem predestinadas a ser, progredindo e se estabilizando e vivendo o que a ele foi destinado, assim como a todos os jovens da classe média.
Trabalhando com Arturo Carrari (Otelo Zelloni) tem a chance de prosseguir e progredir, ganhando cada vez mais dinheiro, mesmo que não seja do modo mais honesto – na base do sorriso, da camaradagem, nos “contatos”, regras são burladas, leis não são cumpridas, os trabalhadores não são registrados e assim a fábrica (ou o Brasil) cresce. Arturo é a representação daqueles empresários investindo no Brasil, sempre repetindo “Brasil o país do futuro” e recusando-se a dirigir o carro nacional.
A vida é baseada em trabalho. As máquinas nas fábricas da Volkswagen não permitem esquecer. A rotina conduz ao tédio e tornam sua angustia e frustração crescentes. A busca incessante pelo dinheiro que, aparentemente, move os paulistanos, é o que Carlos mais despreza, a ponto de xingar a esposa por tentar fazer com que ele cresça na empresa (sendo este, o ápice do que Carlos podia suportar). Um moralismo contestador dentro dele não aceita que Luciana faça propostas em seu nome para crescer financeiramente - já que ele próprio luta contra tudo isso.
Aparentemente, um pouco hipócrita, já que ele é parte a burguesia. Quer se livrar disso, mas não consegue, afinal, ele também precisa de dinheiro. Nada disso no entanto, tira o carisma do personagem, nem seu constante mau-humor que, no fundo, representa a angustia de uma classe média vivendo no caos de uma cidade como São Paulo.
Depois de sua fuga frustrada, dirigindo até a Serra do Mar, acaba voltando para as mesmas pessoas, os mesmos prédios, as mesmas placas, os mesmos carros, para o eterno “recomeçar...”. Carlos é – assim como os outros – impotente diante de sua revolta.
Se o cinema novo queria ser contestador, ele o fazia através da perspectiva do nordestino. Person contesta seu próprio povo, contesta o modo de viver da classe média brasileira, dentro de sua própria cidade. Representando a crise da burguesia, conseguiu registrar em imagens a atmosfera de São Paulo e o drama existencial da classe média que persegue o dinheiro e é encurralada pelo concreto.
Trabalhando com Arturo Carrari (Otelo Zelloni) tem a chance de prosseguir e progredir, ganhando cada vez mais dinheiro, mesmo que não seja do modo mais honesto – na base do sorriso, da camaradagem, nos “contatos”, regras são burladas, leis não são cumpridas, os trabalhadores não são registrados e assim a fábrica (ou o Brasil) cresce. Arturo é a representação daqueles empresários investindo no Brasil, sempre repetindo “Brasil o país do futuro” e recusando-se a dirigir o carro nacional.
A vida é baseada em trabalho. As máquinas nas fábricas da Volkswagen não permitem esquecer. A rotina conduz ao tédio e tornam sua angustia e frustração crescentes. A busca incessante pelo dinheiro que, aparentemente, move os paulistanos, é o que Carlos mais despreza, a ponto de xingar a esposa por tentar fazer com que ele cresça na empresa (sendo este, o ápice do que Carlos podia suportar). Um moralismo contestador dentro dele não aceita que Luciana faça propostas em seu nome para crescer financeiramente - já que ele próprio luta contra tudo isso.
Aparentemente, um pouco hipócrita, já que ele é parte a burguesia. Quer se livrar disso, mas não consegue, afinal, ele também precisa de dinheiro. Nada disso no entanto, tira o carisma do personagem, nem seu constante mau-humor que, no fundo, representa a angustia de uma classe média vivendo no caos de uma cidade como São Paulo.
Depois de sua fuga frustrada, dirigindo até a Serra do Mar, acaba voltando para as mesmas pessoas, os mesmos prédios, as mesmas placas, os mesmos carros, para o eterno “recomeçar...”. Carlos é – assim como os outros – impotente diante de sua revolta.
Se o cinema novo queria ser contestador, ele o fazia através da perspectiva do nordestino. Person contesta seu próprio povo, contesta o modo de viver da classe média brasileira, dentro de sua própria cidade. Representando a crise da burguesia, conseguiu registrar em imagens a atmosfera de São Paulo e o drama existencial da classe média que persegue o dinheiro e é encurralada pelo concreto.
3 comentários:
Adoro filmes de contestação!!! Detesto os mais ou menos, probleminhas fáceis de resolver, amenos!!!
Tô esperando maissssss!!! Atualiza logo esse blog, run...
Ih outra coisa!!! Era esse filme que vcs tavam assistindo no Cine, né? Aham rsrsr vi na Folha do Caparaó vc e Pão-de-sol mega concentradas.. he he he
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