L'Année dernière à Marienbad, Alain Resnais, França, 1955
“O passado é como noesis (ato da consciência) um “agora” ao
mesmo tempo que um “não mais” como noema (o conteúdo da
consciência); o futuro um “agora” ao mesmo tempo que um
“não ainda” e, por conseguinte,não se deve dizer que o tempo
de escoa da consciência, pois ao contrário, é a consciência que,
a partir de agora, desdobra ou constitui o tempo. E se desdobrando
a partir do seu agora, a consciência é então contemporânea de todos
os tempos, é uma consciência atemporal.” (Lyotard 1967, p 98)
Um luxuoso hotel, repleto de amplos salões, corredores imensos, escadarias e estátuas. Assim é Marienbad. Onde travellings percorrendo a paisagem arquitetônica nos levam a um homem (denominado “X”) que tenta lembrar uma mulher casada (“A”) que eles tiveram um caso em Marienbad.
O texto desta vez é de Allain Robbe-Grillet um dos expoentes do chamado Nouveau Roman (novo romance), movimento que tem como base a fenomenologia de Husserl, Merleau-Ponty e Heidegger e como algumas de suas características a descrição e o desejo de acabar com a dicotomia forma-conteúdo, sendo assim uma crítica à estrutura tradicional dos romances.
Voltando ao “labirinto da memória” de Resnais, o que temos são peças de um quebra-cabeça que é inicialmente desmontado e pouco a pouco nos são dadas as peças ( o que não significa necessariamente que facilite as coisas). O tempo não só não é cronológico, o tempo não existe em Marienbad. Personagens estão ali e logo depois não estão, os diálogos são entrecortados, as vozes vem e vão e não se sabe ao certo quem as pronunciou, há raccords de movimento e a montagem paralela que possui papel fundamental na constituição do tempo (ou na ausência dele).
Todo o filme são dicotomias: ficção-realidade, real-imaginário, diálogos-monólogos, construção-desconstrução. Não sabemos se estamos diante de pessoas-estátuas ou estátuas-humanas. Mas isso não importa no momento em que se assiste o filme, já que estamos presos em algum ponto entre o passado e o presente.
A e X às vezes entram em sintonia mas tudo é ligado por uma linha muito tênue (a memória). A está sempre pedindo explicações (nomes, lugares, porquês...), explicações que para X não tem a menor importância (o Nouveau Roman contestando o romance tradicional).
Nos momentos de entrega de A, suas lembranças vão surgindo através de descrições de detalhes fornecidos por X. Observe-se aqui mais uma influência da literatura: em Proust há o famoso episódio das madeleines mergulhadas no chá cujo sabor evoca lembranças passadas. A narrativa não-linear faz com que tudo seja lembrado em fluxo de consciência – as experiências de Joyce ou Faulkner na literatura são vistas na tela de Resnais.
Foi tudo um sonho? É real? Imaginação do homem? Imaginação da mulher? Desde Hiroshima, Mon amour, Resnais já realizava reflexões sobre a memória. E enquanto nos perdemos entre espelhos e labirintos já nem importa mais saber o que de fato aconteceu no ano passado em Marienbad.
O texto desta vez é de Allain Robbe-Grillet um dos expoentes do chamado Nouveau Roman (novo romance), movimento que tem como base a fenomenologia de Husserl, Merleau-Ponty e Heidegger e como algumas de suas características a descrição e o desejo de acabar com a dicotomia forma-conteúdo, sendo assim uma crítica à estrutura tradicional dos romances.
Voltando ao “labirinto da memória” de Resnais, o que temos são peças de um quebra-cabeça que é inicialmente desmontado e pouco a pouco nos são dadas as peças ( o que não significa necessariamente que facilite as coisas). O tempo não só não é cronológico, o tempo não existe em Marienbad. Personagens estão ali e logo depois não estão, os diálogos são entrecortados, as vozes vem e vão e não se sabe ao certo quem as pronunciou, há raccords de movimento e a montagem paralela que possui papel fundamental na constituição do tempo (ou na ausência dele).
Todo o filme são dicotomias: ficção-realidade, real-imaginário, diálogos-monólogos, construção-desconstrução. Não sabemos se estamos diante de pessoas-estátuas ou estátuas-humanas. Mas isso não importa no momento em que se assiste o filme, já que estamos presos em algum ponto entre o passado e o presente.
A e X às vezes entram em sintonia mas tudo é ligado por uma linha muito tênue (a memória). A está sempre pedindo explicações (nomes, lugares, porquês...), explicações que para X não tem a menor importância (o Nouveau Roman contestando o romance tradicional).
Nos momentos de entrega de A, suas lembranças vão surgindo através de descrições de detalhes fornecidos por X. Observe-se aqui mais uma influência da literatura: em Proust há o famoso episódio das madeleines mergulhadas no chá cujo sabor evoca lembranças passadas. A narrativa não-linear faz com que tudo seja lembrado em fluxo de consciência – as experiências de Joyce ou Faulkner na literatura são vistas na tela de Resnais.
Foi tudo um sonho? É real? Imaginação do homem? Imaginação da mulher? Desde Hiroshima, Mon amour, Resnais já realizava reflexões sobre a memória. E enquanto nos perdemos entre espelhos e labirintos já nem importa mais saber o que de fato aconteceu no ano passado em Marienbad.
Um comentário:
Denso, hein, nega? rsrs...
Mas, sim, lendo esse texto dá pra entender melhor as intenções do filme.
Você é muito inteligente, me enche de orgulho =)
Até quinta!
E a outra quinta é minha, ok? rsrs.
beijooo!
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