segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lady Chatterley

Pascale Ferran. Bélgica, França, Inglaterra, 2006.


Logo nos primeiros planos, o expectador é apresentado à vida da protagonista Lady Chatterley e ao ambiente em que ela vive. Às imagens da paisagem do lugar e, em seguida, da protagonista entrando em sua casa, segue-se o céu parcialmente coberto com nuvens. Começam a aparecer os créditos do filme sobre as imagens do interior da mansão vista através das janelas. As cores escuras, conferem à propriedade a aparência de uma prisão. Assim como a vida de Constance.
Tudo em sua vida assemelha-se a uma prisão: a casa onde ela vive, o marido condenado a uma cadeira de rodas (prendendo a mulher a si mesmo, com isso), desejos presos dentro dela mesma, toda a sua vida era feita de bonecas russas, aprisionando tudo que ela pudesse sentir, sufocando-a em várias prisões.
Sua salvação vem na forma do médico da família que é chamado quando ela começa a passar mal. Seu diagnóstico é definitivo: “A cura está em suas mãos. Mude de ar, mude de idéias, senão não respondo pelas conseqüências.”
Mas ainda não é nesse momento que ocorre sua decisão de se libertar... os sentimentos aprisionados nela são despertados aos poucos. A princípio pela nova empregada que aconselha um passeio, as flores no caminho, o contato com Parkin – o guarda-caça. O contato visual já havia surgido algum tempo antes quando o observa a banhar-se próximo a cabana, e o fato a perturba - os desejos começavam a gritar dentro dela mas ainda não estavam prontos para serem libertados.
Primeiro a imaginação a assusta, depois ela começa a dominar as emoções embora ainda não esteja acostumada a isso. Aos poucos se habitua, o olhar-se nua no espelho, caminhar pela floresta, aproximar-se do guarda-caças, dirigir-se a ele. Quando inicia com ele uma relação, a princípio ambos buscam somente o prazer, mas ao poucos o desejo carnal dá lugar ao amor.
Se, a princípio, era ele que a procurava, aos poucos ela se sente mais segura e o procura também e passa a conduzir a relação também. Ela pede que ele tire a camisa, que se vire, ela já não quer apenas sentir, mas também olhar, tocar, falar e abstrair vida e sentimentos de todos os pontos possíveis.
A vida surge em Constance de novo para que Pascale Ferran possa traduzir em imagens cenas como Constance e Parkin (Marina Hans e Jean Louis Coulloc´h em belíssimas interpretações) correndo na chuva nus, num misto de sensualidade e inocência pueril, para que depois enfeitem seus corpos com flores, descobrindo o prazer em cada gesto simples: o olhar, o toque, a palavra. Metamorfoses de sentimentos que vão da satisfação carnal ao amor. Sentimentos capazes de devolver a vida a um corpo que até então somente existia.

Um comentário:

Luiz Carlos Cardoso disse...

Me sinto tão... tão... tão perdido quando leio essas releases. Preciso me interar mais nesse meio cinematográfico. As sessões no Cineclub são ingratas, a noite eu estudo...

Mas visite meu blog!! Lá, a arte é sobre teatro. O endereço é http://corposemorgaos.blog.terra.com.br/

Grande beijo, Nayara!